sexta-feira, 28 de outubro de 2011

“Fé e Razão: um casamento que pode dar certo” (II)

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Aqui damos continuidade a uma segunda reflexão sobre este tema. Na primeira matéria contemplamos a fé e a razão como dois pólos que nos provocam constantemente na busca de uma resposta adequada.
A negação ou a acentuação de um dos pólos em detrimento de outro pode causar muito desequilíbrio. Por isso, aqueles que estão mais do lado da fé, necessitam abertura, deixar preconceitos de lado e acolher a fala e a contribuição das ciências. Por outro lado, aqueles que estão mais do lado das ciências necessitam fazer a mesma coisa e mostrar disponibilidade para acolher a mensagem da fé. Nós podemos lidar com estas questões a partir de um esquema rígido que se posiciona, por exemplo, assim: fideísmo, espiritualismo versus racionalismo, cientificismo. Como os “ismos” por natureza são reducionistas, tornam-se também perigosos e com que facilidade o ser humano cai nessa armadilha. Muitas vezes, o diferente é olhado com desconfiança e receio. O diferente costuma desinstalar, questionar e ameaçar. A formação dos preconceitos tem muito a ver com isso.
Porém, encontramos outras maneiras de lidar com esse debate entre fé e razão. João Paulo II na Carta Apostólica no XVI centenário da conversão de Santo Agostinho nos oferece uma síntese da perspectiva agostiniana sobre o tema que nós estamos refletindo:

“Antes de tudo, as relativas ao problema que mais o atormentava na juventude e sobre o qual ele voltou com a força do engenho e a paixão da alma, o respeitante às relações entre a razão e a fé: um problema de sempre, de hoje não menos que de ontem, de cuja solução depende a orientação do pensamento humano. Mas o problema difícil porque se trata de passar incólume entre um extremo e outro, entre o fideísmo que despreza a razão e o racionalismo que exclui a fé. O esforço intelectual e pastoral de Agostinho foi o de mostrar, sem sombra de dúvida, que ‘as duas forças que nos levam a conhecer’ devem cooperar entre si.
Ele escutou a fé, mas não exaltou menos a razão, dando a cada uma o seu primado, ou de tempo ou de importância. Disse a todos o crede ut intelligas, mas repetiu também o intellige ut credas. Escreveu uma obra, sempre atual sobre a utilidade da fé (...) mas afirma também que a fé nunca é sem razão, porque é a razão que demonstra ‘em quem se deve crer’. Portanto, ‘também a fé tem os seus olhos com os quais vê, de certo modo, que é verdadeiro aquilo que ainda não vê. ‘Ninguém crê, portanto, se antes não pensou que deve crer’ porque, ‘crer, não é mais do que pensar com assentimento ... tanto que ‘a fé que não seja pensada não é fé”.

A partir da contribuição agostiniana, percebemos que uma alternativa saudável neste debate nos convida a passar de um paradigma de fragmentação para um paradigma de integração. Um projeto de vida que negue e desconsidere os opostos, vivenciando apenas um único pólo, costuma gerar muita divisão, distorção, sofrimento e doença, mergulhando a pessoa num estado caótico e de morte. O problema, em definitiva, não está em si mesmo na fé e/ou na razão, mas na maneira como o ser humano lida com esses pólos e por extensão com as diferenças na sua vida. Isto me faz lembrar um texto que passei para os seminaristas sobre uma pedra e que desconheço o autor, mas deixo aqui reproduzido, pois me parece muito simples e ilustrador.
A Pedra

O distraído nela tropeçou;
O bruto a usou como um projétil;
O empreendedor, usando-a, construiu;
O camponês, cansado da lida, dela fez assento;
Para as crianças foi brinquedo;
Drummond a poetizou;
Com ela Davi matou Golias;
O artista fez dela a mais bela escultura...

Em todos os casos, a diferença não era a pedra, mas sim o homem. Nessa “Pedra” nós podemos ver a Fé e a Razão. O que eu faço com elas depende de mim. Assim, podemos concluir pensando como seria bonito usar a Fé a Razão para que nós, artistas do belo, possamos construir, criar, proporcionar estruturas, ambientes, espaços mais saudáveis e dignos para todos. Um desafio, que eu vejo também como tarefa, é possibilitar ao ser humano melhores condições de vida, evitando o cultivo de atitudes fanáticas e fundamentalistas e ao mesmo tempo contribuir com um paradigma de integração e harmonia, ampliando nossa consciência e criando comunhão. Bem-aventurado o ser humano que se ocupa com o cultivo da ciência e da fé, valendo-se delas em pró de um projeto de vida e de vida em abundância. A final de contas, podemos ver a fé e a razão como um casamento que pode dar certo.

                                                                                       Autor: José Lorenzo Gomes

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