quarta-feira, 26 de outubro de 2011

“Fé e Razão: um casamento que pode dar certo” (I)

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A partir da releitura da encíclica de João Paulo II “Fides et Ratio” faço algumas reflexões que quero dividir. De acordo com o Papa “a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”.
No contexto do início deste novo milênio quando os avanços tecnológicos ficam mais evidentes, os questionamentos da pós-modernidade mais explícitos, a convivência social e cultural mais aberta e plural e o ser humano mais exigente nas respostas, retorna ao palco público um debate, antigo e atual, da relação entre a fé e a razão.
Inicialmente me veio à memória a imagem do matrimônio e o relacionamento entre a mulher e o homem, entre o feminino e o masculino. Olhando para os dois pólos da relação matrimonial percebemos que não é nada fácil ter uma relação construtiva e saudável. É um fato comum que a relação entre o homem e mulher muitas vezes é destrutiva e patológica. Porém as pessoas não perdem a esperança de encontrar uma relação saudável e gratificante e todos os dias em algum lugar deste planeta um homem e uma mulher estão se comprometendo a viver juntos, nas alegrias e nas tristezas, no amor e no respeito com a expectativa e a esperança que esse casamento, essa relação possa dar certo. E claro também encontramos matrimônios onde a relação é saudável e que deu certo. Porém isso não acontece de maneira mágica e para que essa relação se aproxime do ideal precisa de ajuste e da contribuição adequada de ambas as partes, assim como os cuidados necessários que uma relação desse tipo demanda.
Algo parecido acontece e tem acontecido no “casamento” entre a fé e a razão. Olhando a partir de uma perspectiva histórica, percebemos nesse relacionamento atitudes negativas de traição, adultério, infidelidade, desconfiança, desrespeito, abuso de poder, desencontros, invasão do campo alheio, desvalorização e humilhação etc. que comprometem o equilíbrio de qualquer relação. Porém o ser humano, o verdadeiro pensador e o verdadeiro crente, alimenta a esperança de que um dia fé e razão possam viver juntas, no respeito e no amor, tornando esse casamento uma convivência fecunda, próspera e saudável.
Razão ou Fé, Ciência ou Religião, Homem ou Mulher, Psicologia ou Espiritualidade, Filosofia ou Teologia, etc. Essa maneira de apresentar a polaridade não ajuda muito na compreensão e na convivência. Podemos trocar e talvez seja mais edificante colando a proposição conjuntiva “e”. Razão e Fé, Ciência e Religião, Homem e Mulher, Psicologia e Espiritualidade, Filosofia e Teologia. Jesus, nosso modelo de conjunção e de vida nos deixou um paradigma de integração, mostrando que até os pólos mais diferentes podem estar juntos, como o humano e o divino. Jesus, humano e divino.
As diferenças, por princípio, não deveriam tornar-se um obstáculo para uma convivência pacífica. Por isso, o paradigma que se fundamenta na proposição disjuntivaou” nem sempre é o mais adequado na relação entre as diferenças. Talvez a escolha mais acertada, neste caso, seja o uso da proposição conjuntivae”. Também quando o tema dessa relação é refletido a partir do grau de importância e de poder, costuma cria um obstáculo sério, gerando afastamento e exclusão. Porém, quando há boa vontade das duas partes, colocando-se numa perspectiva de respeito, de abertura, da valorização do outro, da igualdade e das diferenças, costuma gerar aproximação, criando condições para que o relacionamento se torne autêntico e construtivo. Quando a relação é harmoniosa não significa que há ausência de tensões e questionamentos recíprocos. Porém, cair na tentação de querer abolir, sufocar um dos dois pólos é semear o caos. Uma alternativa da possibilidade de superação da relação caótica está na escuta do apelo da nossa consciência que clama por um relacionamento cósmico e harmônico. Nesta tarefa venho me empenhando, pois acredito que integrando as diferenças podemos oferecer para a sociedade uma esperança de viver juntos numa convivência fraterna.

                                                                                      Autor: José Lorenzo Gómez

Um comentário:

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