
No entanto, a constatação desta experiência de vazio
existencial em nossas vidas nos leva a reflexão de um tema muito mais profundo.
Faz-nos perceber a existência de um forte desejo presente no interior de cada
homem: a vontade de sentido[2].
Paradoxalmente, quando nos percebemos submersos no tédio e experimentando a
sensação de vazio existencial, surge também dentro de nós o desejo ardente de
encontrar um sentido à vida, de encontrar-nos com uma realidade que possa
fazer-nos simplesmente mudar e recuperar o brilho e a esperança que antes movia
nossas ações e que agora, por vários motivos, parece que está adormecida. Você
já parou para pensar sobre esta realidade que nos afeta no mais profundo de
nosso ser? Você já se perguntou sobre essa vontade de sentido? Esta reflexão
terá como objetivo esclarecer a problemática da busca de sentido,
fundamentando-se nos estudos do psiquiatra e criador da Logoterapia, Viktor Frankl.

A partir disso, Frankl afirma
que além de nossos mecanismos de defesa e reações instintivas ao ambiente que
apontava Freud, o ser humano também possui um desejo fundamental, tão intenso
quanto os instintos: a vontade de dar sentido à vida. Como o próprio autor escreve: “A busca do individuo por um sentido é a motivação
primária em sua vida, e não uma ‘racionalização secundária’ de impulsos
instintivos. Esse sentido é exclusivo e específico, uma vez que precisa e pode
ser cumprido somente por aquela determinada pessoa. Somente então esse sentido
assume uma importância que satisfará sua própria vontade de sentido”. [4]
Sendo
assim, a busca de sentido não é uma invenção do ser humano, mas uma necessidade
fundamental que já está presente em seu interior. Tal necessidade pode ficar
por muito tempo adormecida, como se a mesma não existisse. Mas em
algum momento da vida ela sempre brota com força, provocando-nos a nos
posicionar frente à existência, buscando um sentido à vida, um motivo pelo qual
se mereça viver. Caso contrário, deparamo-nos com a experiência do vazio
existencial e a ausência de sentido. Somente quando enfrentamos a vida a partir dessa necessidade de
encontrar um sentido, é que descobrimos a felicidade e o prazer de existir.
Porém, quando rejeitamos tal problemática, tudo parece carecer de significado.
A vida torna-se uma angustiante rotina onde não há nada verdadeiramente novo ou
que nos motive a vivê-la com intensidade. Caímos, então, no tédio e no vazio existencial.

Dessa forma, para Viktor
Frankl existem três modos de se evitar o vazio existencial e encontrar um sentido
para a vida: 1) dedicando-se à pratica de algo; 2) experimentar algo ou amar
alguém; 3) enfrentar um destino inevitável e fatal com atitude de firmeza[5].
Estas três vias possuem uma característica comum fundamental que o fundador da
Logoterapia chama de autotranscendência, que consiste no movimento de
sair de si mesmo, de deixar o próprio egoísmo e seus desejos, para entregar-se
totalmente à uma realidade exterior, seja uma ideia, um projeto ou alguém. Como
o próprio autor afirma: “entendo por autotranscendência o fato antropológico
fundamental de que o ser humano se remete sempre, mais além de si mesmo, a algo
que não é ele: a algo ou alguém, a um sentido que o homem busca ou a um
semelhante com quem se encontra. E o homem se realiza si mesmo na medida em que
se transcende: ao serviço de uma causa ou no amor a outra pessoa. Em outras
palavras, o homem só é plenamente homem quando se sacrifica por algo ou se
entrega por outro. E é verdadeiramente homem quando se deixa em segundo plano e
se esquece de si mesmo”. [6]

Você já parou para refletir
se em sua vida o primordial é a entrega pelos outros e a autotranscendência? Ou
você se locomove mais desde padrões egocêntricos e de auto-realização? É o
sentido de sua vida que está em jogo! Pense sobre isso.
Autor: Prof. Msc. Arnin Braga
[1] FROMM, Erick. La vida auténtica. Editora Paidós:
Barcelona, 2007. p. 27.
[6] FRANKL, Viktor. El hombre doliente. Editora Herder:
Barcelona. pp. 62-63.
A existência é sustentada pela crença de um Deus que se fez homem e se sacrificou por nos em exemplo do mais puro amor e é nesse amor que é exemplo de doar-se para o proximo.
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