
Dessa maneira, o objetivo deste artigo é refletir sobre as
seguintes questões: como a morte, que
representa o fim da existência e o término de toda e qualquer atividade do
homem, pode trazer sentido para a vida humana? Como a morte pode fazer com que
o homem exista de maneira autêntica?
Ao
longo da História, o problema da finitude humana sempre se mostrou como um
assunto intrigante e ao mesmo tempo desconcertante para o homem. Encarada como
o fim da existência, a reflexão sobre a morte sempre causou diferentes reações
nos indivíduos. Para alguns, ela é a passagem para o além, para uma realidade
extraterrena. Outros já a encaram como um salto para o nada. Porém há um ponto
em comum entre os que se ocupam dessa problemática: tomar consciência da
questão da morte leva o homem a pensar sobre o sentido de sua existência.

Martin
Heidegger, um filósofo alemão do século XX, afirmava em sua obra Ser e
Tempo que o homem é um "ser-para-a-morte", isto é, o único
ser-vivo capaz de refletir sobre a questão da finitude, e por ter esta
capacidade, ele se angustia. Por meio de tal sentimento, o homem pode
projetar-se em várias possibilidades que darão sentido a sua própria existência. Segundo
este pensador, por meio do confrontamento com a morte, o homem toma
consciência que não é um ser pré-determinado, que possui uma essência
pré-definida, mas percebe que nunca poderá realizar-se plenamente, pois a morte
irá encerrar sua existência. Com isso, ele se
sente livre para optar por qualquer projeto, e assume sua vida e suas
responsabilidades. Como a vida só é uma, o homem autêntico busca assumir as
possibilidades que realmente possam dar sentido a sua existência.

Nesse
sentido, Ruben Alves, em sua obra Tempus Fugit, afirma: "Se
me disserem que ainda me restam dez anos, continuarei a ser tolo, mosca agitada
na teia das medíocres mesquinhas rotinas do cotidiano. Mas se só me restam seis
meses, então tudo se torna repentinamente puro e luminoso. Os não essenciais se
despregam do corpo, como escamas inúteis. A Morte me informa sobre o que
realmente importa".
Vale
ressaltar que é muito difícil para nós tomarmos consciência de que a reflexão
sobre a morte pode nos fazer viver mais intensamente. Atualmente, podemos
perceber que as pessoas manifestam uma postura de repulsa frente ao morrer
humano, poucos são os que se confrontam de maneira realista com essa situação
limite. No cotidiano, a morte é vista como uma perda. Nos dias atuais ela vem
se tornando um tema a ser evitado. Essa situação limite representa para o homem
o maior desafio. Ela o obriga a deparar-se com a própria fragilidade; força-o a
defrontar-se com a própria finitude. Ao observarmos os tempos atuais, podemos
perceber que essa interpretação errônea que as pessoas têm da morte se agrava,
pois, na sociedade em que vivemos, que valoriza o lucro exacerbado e a
produtividade a qualquer preço, que promove a competição e ao mesmo tempo a
exclusão, o ser humano que está à beira da morte é considerado um fracassado.
Entretanto,
podemos perceber que as coisas não são assim. A reflexão sobre a morte só nos
fala sobre a vida, nos revela como estamos lidando com nossa existência, e que
caminhos estamos trilhando. Como escreveu Molière em sua famosa obra Dom
Juan: "A morte é a única conselheira e sábia que temos. Sempre que você
sentir que tudo vai de mal a pior e que você está a ponto de ser aniquilado,
volte-se para sua Morte e pergunte-lhe se isso é verdade. Sua Morte lhe dirá
que você está errado. Nada realmente importa fora de seu toque... Sua Morte o
encarará e lhe dirá: 'Ainda não o toquei'. [...] Um de nós tem de aprender que
a Morte é caçadora, e está sempre à nossa esquerda. Um de nós tem de aceitar o
conselho da Morte e abandonar a maldita mesquinharia que acompanha os homens
que vivem suas vidas como se a Morte não os fosse tocar nunca".
A
partir desta reflexão, podemos constatar que o homem, tendo consciência e
certeza da morte, passa a encarar a sua vida com mais intensidade, assumindo de
fato sua existência, encarando suas responsabilidades e limitações e possuindo
um olhar mais realista do mundo e dos outros. Pense sobre isso.
Autor: Arnin Braga
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