Hoje pela manhã, ao tomar
banho, deparei-me com a resistência do chuveiro queimada e disse a mim mesmo: ─
hoje será um dia daqueles...
Vesti-me, esperei o comércio local abrir. Dirigi-me ao centro com o pensamento em devaneios. Já dentro do supermercado, após pegar uma resistência para substituir a que queimara no meu chuveiro e com o olhar duvidoso sobre o que escolheria para preparar o almoço, senti o toque de uma mão no meu ombro esquerdo, seguido de uma voz feminina que me interpelava:
─ Por acaso o senhor é o professor Alexandre Franco?
Vesti-me, esperei o comércio local abrir. Dirigi-me ao centro com o pensamento em devaneios. Já dentro do supermercado, após pegar uma resistência para substituir a que queimara no meu chuveiro e com o olhar duvidoso sobre o que escolheria para preparar o almoço, senti o toque de uma mão no meu ombro esquerdo, seguido de uma voz feminina que me interpelava:
─ Por acaso o senhor é o professor Alexandre Franco?
─
Sim - respondi.
─
Olha, professor, gostaria de agradecer ao senhor pelo meu filho; ele fala muito
em você, às vezes até se emociona!
Os olhos dela brilhavam de
orgulho pelo filho. Fiquei um tanto perplexo, e, embora a conhecesse, indaguei o
porquê daquela emoção.
– É que meu filho passou em
Matemática e escolheu ser professor por sua causa. Vive dizendo que você é um “puta
de um professor” e que se inspirou em você para tomar a decisão de ser um
docente, embora ele também tivesse passado em Administração e Ciências Contábeis.
Confesso que não sabia se me
alegrava junto àquela mãe ou chorava, pois eu, enquanto professor, estou
desempregado e, portanto, de pouco adianta ser um “puta de um professor” se não
estou no meu “habitat natural” - a sala de aula.
As políticas atuais estão
solapando a educação em nível nacional. Todavia, isso é assunto para outra
discussão, pois o que nos interessa aqui é a reflexão de como não temos o
domínio das variáveis que nos cercam no dia a dia, de uma resistência queimada a
ser referência para uma grande escolha existencial na vida de um jovem
estudante.
Foram apenas dois anos de
aula para aquele jovem – cujo nome deixo em segredo para não constrangê-lo
futuramente – e isso me faz refletir:
─ E toda caminhada que ele
fez até o sucesso da aprovação no
vestibular na tão sonhada faculdade pública? Quantos professores, desde a
pré-escola até o 3º do Ensino Médio, passaram pela vida dele? O que fizeram? Como
um simples professor/”filósofo” poderia tê-lo instigado tanto assim?
Talvez a resposta para
entender tudo isso esteja em dar o melhor de si, em aproveitar o potencial que
aqueles alunos, naquelas salas lotadas, têm a oferecer. Ensiná-los não uma
matéria, mas uma disciplina, formá-los como pessoas, não fazer o que os manuais
didáticos pedem, porque a vida simplesmente não é restringida a manuais e
regras. Como dissemos no começo dessas linhas, não conseguimos abarcar todas as
variáveis que nos cercam, no entanto, quando a oportunidade de transformar uma
vida se apresentar, não sigamos os clichês, mas doemos o melhor de nós. Fazendo o uso de um clichê apenas como recurso
pedagógico, sejamos nota 10, porque de 7,0 o mundo está cheio. Sejamos, enfim,
referências e não omissões.
Autor: Alexandre Franco
Muito bom e inspirador, muito obrigado por compartilhar a sua vivência. A tristeza maior é que se a média fosse um 7,0 seria ótimo, mas na maioria das vezes se espera positivamente um 2,0 e quando se esforçamos a dar nosso melhor acabamos por se destacamos aos olhos dos jovens que a meu ver aparentam cada dia mais deslocados. Parabéns por fazer sua parte Professor Alexandre, tenho certeza que logo as situações difíceis da sua vida gerarão grandes frutos.
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