segunda-feira, 20 de agosto de 2018

SOBRE SER UMA REFERÊNCIA

Sigam-nos: https://www.facebook.com/Nuforhpan-728995427279837/
 Hoje pela manhã, ao tomar banho, deparei-me com a resistência do chuveiro queimada e disse a mim mesmo: ─ hoje será um dia daqueles...
           Vesti-me, esperei o comércio local abrir. Dirigi-me ao centro com o pensamento em devaneios. Já dentro do supermercado, após pegar uma resistência para substituir a que queimara no meu chuveiro e com o olhar duvidoso sobre o que escolheria para preparar o almoço, senti o toque de uma mão no meu ombro esquerdo, seguido de uma voz feminina que me interpelava:                       
            ─ Por acaso o senhor é o professor Alexandre Franco?
            ─ Sim - respondi.
            ─ Olha, professor, gostaria de agradecer ao senhor pelo meu filho; ele fala muito em você, às vezes até se emociona!
Os olhos dela brilhavam de orgulho pelo filho. Fiquei um tanto perplexo, e, embora a conhecesse, indaguei o porquê daquela emoção.     
– É que meu filho passou em Matemática e escolheu ser professor por sua causa. Vive dizendo que você é um “puta de um professor” e que se inspirou em você para tomar a decisão de ser um docente, embora ele também tivesse passado em Administração e Ciências Contábeis.
Confesso que não sabia se me alegrava junto àquela mãe ou chorava, pois eu, enquanto professor, estou desempregado e, portanto, de pouco adianta ser um “puta de um professor” se não estou no meu “habitat natural” - a sala de aula.
As políticas atuais estão solapando a educação em nível nacional. Todavia, isso é assunto para outra discussão, pois o que nos interessa aqui é a reflexão de como não temos o domínio das variáveis que nos cercam no dia a dia, de uma resistência queimada a ser referência para uma grande escolha existencial na vida de um jovem estudante.
Foram apenas dois anos de aula para aquele jovem – cujo nome deixo em segredo para não constrangê-lo futuramente – e isso me faz refletir:
─ E toda caminhada que ele fez até o sucesso da  aprovação no vestibular na tão sonhada faculdade pública? Quantos professores, desde a pré-escola até o 3º do Ensino Médio, passaram pela vida dele? O que fizeram? Como um simples professor/”filósofo” poderia tê-lo instigado tanto assim?
Talvez a resposta para entender tudo isso esteja em dar o melhor de si, em aproveitar o potencial que aqueles alunos, naquelas salas lotadas, têm a oferecer. Ensiná-los não uma matéria, mas uma disciplina, formá-los como pessoas, não fazer o que os manuais didáticos pedem, porque a vida simplesmente não é restringida a manuais e regras. Como dissemos no começo dessas linhas, não conseguimos abarcar todas as variáveis que nos cercam, no entanto, quando a oportunidade de transformar uma vida se apresentar, não sigamos os clichês, mas doemos o melhor de nós.  Fazendo o uso de um clichê apenas como recurso pedagógico, sejamos nota 10, porque de 7,0 o mundo está cheio. Sejamos, enfim, referências e não omissões.


                                                                              Autor: Alexandre Franco

Um comentário:

  1. Muito bom e inspirador, muito obrigado por compartilhar a sua vivência. A tristeza maior é que se a média fosse um 7,0 seria ótimo, mas na maioria das vezes se espera positivamente um 2,0 e quando se esforçamos a dar nosso melhor acabamos por se destacamos aos olhos dos jovens que a meu ver aparentam cada dia mais deslocados. Parabéns por fazer sua parte Professor Alexandre, tenho certeza que logo as situações difíceis da sua vida gerarão grandes frutos.

    ResponderExcluir

O VAZIO EXISTENCIAL E A BUSCA DE SENTIDO: Como evitar o primeiro e encontrar o segundo?

O cotidiano é o lugar onde a vida realmente acontece. Nele vivemos nosso dia-a-dia, nos relacionamos, realizamos nossas atividades e exi...